A série "Stranger Things" aumentou a sensibilização do público para uma displasia óssea muito rara que ocorre em um nascimento por cada milhão.
Todos conhecemos a série Stranger Things da Netflix, uma das mais vistas da popular plataforma de streaming. A série que começou em 2016 acompanha um grupo de jovens amigos de uma pequena cidade que testemunha forças sobrenaturais e experiências secretas. Enquanto procuram respostas, as crianças desvendam uma série de mistérios extraordinários.
Uma das personagens principais da série é Dustin Henderson, interpretada por Gaten Matarazzo. Dustin é retratado como um rapaz adorável e aventureiro com uma personalidade encantadora, uma curiosidade insaciável sobre o mundo e um profundo compromisso com os seus amigos.
Fora do ecrã, Gaten, agora com 21 anos é um corajoso rapaz que já enfrentou várias cirurgias relacionadas com sua condição: displasia cleidocraniana, uma condição genética rara que afeta os dentes e os ossos que podem ter uma formação diferente ou ser mais frágeis. Alguns ossos, como as clavículas, podem mesmo estar ausentes. As pessoas diagnosticadas podem ter características físicas distintas, como clavículas subdesenvolvidas, baixa estatura, características faciais únicas e atraso no desenvolvimento dos dentes.
Gaten tem aproveitado o seu talento como ator e a sua fama para fazer manchetes e falar sobre a sua saúde.
Ao longo dos anos, Gaten tem falado abertamente sobre a sua batalha contra a displasia cleidocraniana na sua conta de Instagram e até documentou as cirurgias a que foi submetido para tratamento de problemas dentários.
A condição foi-lhe diagnostica ao nascimento, o que significa que ele lida com esta condição rara há mais de 20 anos. Numa entrevista de 2018 partilhou com o público que nasceu sem clavícula e afirmou que o seu papel na série é especial: "Acho que o que os irmãos Duffer, os criadores da série, o que realmente queriam fazer era garantir que cada personagem fosse único e tivesse algo que fosse realista e pessoal".
A presença de um ator com uma displasia óssea e características físicas diferentes numa série de grande sucesso mundial tem um grande impacto na sociedade, pois representa as pessoas que, habitualmente, não estão devidamente representadas na cultura popular. Este impacto é ainda maior devido à abertura com que Gaten fala dos seus problemas e partilha momentos privados do seu dia a dia com esta condição.
Este impacto é facilmente medido. Há registos de picos nas pesquisas semanais online sobre displasia cleidocraiana e outros termos associados (doença óssea rara, displasia óssea, etc) depois de cada temporada. Isto significa que a sociedade está, organicamente, a aprender sobre estes termos e, com isso, dá-se um aumento da sensibilização.
No primeiro episódio de Stranger Things vemos Dustin a defender-se dos bullies da sua escola. "Já vos disse um milhão de vezes, os meus dentes estão a nascer!", "Chama-se displasia cleidocraniana."
O entretenimento, os media e outras formas de cultura popular desempenham um papel importante na formação das nossas percepções dos outros. Para muitos de nós, a cultura popular é a principal forma de aprendermos sobre pessoas que são diferentes. No entanto, muitas representações partem de estereótipos que tendem a marginalizar e a caricaturar e através destas representações, cria-se uma visão limitada e distorcida dos outros. Este não é o caso com Gaten em Stranger Things.
Para entendermos outro lado deste impacto, pensemos na esperança que uma criança com uma doença rara ganha, ao ver-se representada na televisão pelos seus heróis. É este o poder da cultura popular, pode ajudar a construir uma sociedade melhor e é por isso que é de grande importância que inclua e represente, de forma adequada, todas as Pessoas.
A 5ª e última temporada de Stranger Things encontra-se neste momento em filmagens com data ainda incerta para a estreia. Teremos ainda de aguardar um pouco para ver Dustin em ação novamente.
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