A displasia campomélica é uma condição muito rara com prevalência no nascimento de, aproximadamente, 1: 300.000. Trata-se de uma displasia óssea que é frequentemente letal no primeiro ano de vida, devido à insuficiência respiratória relacionada com o tamanho do peito muito pequeno e com a hipoplasia traqueobrônquica1.
A displasia campomélica é uma condição genética grave que afeta o desenvolvimento das vias respiratórias, dos pulmões, dos ossos e dos órgãos reprodutores do bebé. É uma displasia óssea que causa baixa estatura envolvendo um crescimento anormal dos ossos e da cartilagem, apresentando curvatura congénita dos ossos tubulares longos, especialmente nas extremidades inferiores. O nome deriva do grego "campo", que significa curvado, e "melia", que significa membro.
Muitos bebés com esta condição morrem devido a problemas respiratórios. As pessoas que sobrevivem podem desenvolver uma curvatura muito acentuada da coluna vertebral (escoliose) e alterações nos ossos do pescoço que comprimem a medula à medida que envelhecem.
Está associada a mutações no gene SOX9. As mutações neste gene também estão associadas à inversão sexual 46 XY, com marcada variabilidade no grau de disgénese gonadal entre portadores da mesma mutação2.
É transmitida num padrão autossómico dominante: alguns casos provêm de um progenitor com mutação, enquanto que outros ocorrem como mutação de novo, ou seja, sem historial familiar (ver imagem abaixo).
Fig. 1. Hereditariedade: a displasia campomélica passa de pais para filhos. No entanto, também pode ocorrer como resultado de uma mutação de novo.
Fig. 2 Características clínicas e radiológicas de bebé aos 7 meses de idade. Fonte: Wiley Online Library
Têm sido descritos poucos casos da síndrome variante, referidos como "Displasia campomélica acampomélica". Esta variante pode ser distinguida pela falta de curvatura nos ossos longos, fémures e tíbias3.
Fig. 3. A: Criança de 2 anos com fácies planas típicas, ponte nasal deprimida, queixo pequeno. A laringotraqueomalácia causa deficiência respiratória com traqueostomia; B: Criança de 6 anos com pernas curtas e deformadas. C: Angulação extrema da tíbia com covinha no ápice; D: Pernas curtas e tíbias deformadas em menina de 5 anos: E: Pé torto; metatarso varus. Fonte: Netter.
O diagnóstico pré-natal é feito, geralmente, por suspeita durante a ecografia do 2º trimestre, com base na observação de atraso de crescimento ósseo e pseudo-hermafroditismo. O teste genético pré-natal pode ser realizado através da amniocentese ou por biópsia das vilosidades coriónicas.
Após o nascimento, o diagnóstico baseia-se no exame clínico, radiografias das vértebras, ancas, tórax, pernas e pés, ultra-som dos rins e ecocardiograma do coração. A análise do ADN do sangue pode confirmar uma mutação no gene SOX9.
Aconselhamento genético:
O aconselhamento genético é recomendado para ajudar as famílias a compreender a genética e a história natural da displasia campomélica e para fornecer apoio psicossocial.
Efetuar o diagnóstico de uma doença genética ou rara pode constituir muitas vezes um desafio. Os profissionais de saúde normalmente analisam o historial médico e os sintomas, realizam exames físicos e testes laboratoriais, a fim de o alcançar.
Até à data, a maioria das pessoas têm esta condição como resultado de uma mutação de novo. Assim, os pais não têm a condição. Mas o diagnóstico pré-natal de gravidezes de risco acrescido é possível se a variante patogénica na família for conhecida3.
Não há tratamento específico para a displasia campomélica. Este destina-se a prevenir ou gerir os sintomas e complicações associados a esta condição. Por exemplo, cuidados ortopédicos e cirurgia podem ser necessários para uma coluna instável, pés tortos, e anomalias da anca. Deverá recorrer-se à cirurgia conforme necessário para minimizar os efeitos da cifose cervicotorácica progressiva na função pulmonar.
A cirurgia também pode ser indicada para o palato fendido, se presente. O tratamento dos problemas respiratórios consiste em assistência respiratória mecânica ou física, tal como pressão expiratória positiva (PEEP).
A Costela Prostética Expansível Vertical em Titânio (VEPTR) foi aprovada pela FDA em 2004 como tratamento para a síndrome da insuficiência torácica em pacientes pediátricos. Trata-se de um dispositivo implantado e expansível que ajuda a endireitar a coluna vertebral e a separar as costelas para que os pulmões possam crescer e encher-se de ar suficiente para respirar.
É essencial a vigilância do crescimento e da curvatura da coluna vertebral e um conjunto variado de especialistas deve estar envolvido nos cuidados e no acompanhamento:
- Médico geneticista
- Ortopedista/cirurgião ortopédico
- Cirurgião craniofacial
- Endocrinologista
- Audiologista
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