Displasia Fibrosa

A displasia fibrosa (DF) é uma condição óssea rara em que ocorre substituição de tecido ósseo por tecido conjuntivo fibroso (semelhante a uma cicatriz). Este tecido enfraquece o osso, tornando-o propenso a fraturas e causando dor. A incidência e prevalência exatas desta condição são desconhecidas e os casos ligeiros podem não ser diagnosticados, o que torna difícil determinar a verdadeira frequência da DF na população.

O que é a displasia fibrosa1

A DF foi descrita pela primeira vez na literatura médica em 1938 pelo Dr. Lichtenstein. É uma condição rara que pode ocorrer como parte de uma doença maior, como a síndrome de McCune-Albright (MAS).

Trata-se de uma displasia óssea rara que causa a substituição de osso por tecido fibroso e, à medida que estas áreas crescem e se expandem ao longo do tempo, podem enfraquecer o osso, provocando a sua fratura ou deformação. A DF pode afetar apenas um osso isolado (forma monostótica) ou pode ser generalizada, afetando vários ossos do corpo (forma poliostótica). Algumas pessoas com DF apresentam poucos ou nenhuns sintomas. Noutros casos, no entanto, são afetados vários ossos e a doença é mais grave. Estas pessoas podem necessitar de cirurgia para remover as áreas do osso onde se encontra tecido fibroso para prevenir ou tratar fraturas ou deformações.

O que causa a displasia fibrosa2

A causa subjacente da DF não é ainda totalmente compreendida. Os investigadores acreditam que a condição é causada por uma mutação num gene chamado GNAS1 (que controla as células responsáveis pela produção de massa óssea). Esta mutação ocorre após a fertilização do embrião (mutação somática) e, por isso, não é herdada dos pais e as pessoas com esta mutação não transmitem a condição aos seus filhos.

Não se sabe exatamente por que razão estas mutações somáticas ocorrem, pois parecem desenvolver-se aleatoriamente e por razões desconhecidas.

Características clínicas4,5

A displasia fibrosa é uma condição crónica e, muitas vezes, progressiva. Embora as lesões possam estabilizar e parar de crescer, não desaparecem. Lesões individuais podem progredir mais rapidamente na forma poliostótica e em crianças em crescimento. A variabilidade dos sintomas da DF deve-se, em parte, ao rácio entre células saudáveis e células anómalas.

Fig. 1. Sintomas nas órbitas, mandíbula e base do crânio. Note-se o aspeto esponjoso na tomografia, bem como o crescimento excessivo do centro da face e a distorção nasal.

Fonte: Children's Hospital of Philadelphia.

Fig. 2. A: Tíbia curvada devido à displasia fibrosa. B: RX do fémur onde a seta mostra uma fratura causada pela DF.

Fonte: Hillock RW, Zupan C: Fibrous dysplasia. Orthopaedic Knowledge Online Journal, 2007

 

Principais características:

  1. Dor
    À medida que o tecido ósseo fibroso cresce e se expande, a área afetada pode tornar-se dolorosa. A dor é mais provável de ocorrer se o osso afetado for um dos ossos que suportam o peso da perna ou da pélvis.
  2. Fraturas
    O osso fibroso é muito fraco e pode partir ou fraturar, causando dor súbita e intensa. Uma fratura ocorre frequentemente após um período de dor, embora também possa ocorrer subitamente, sem qualquer dor prévia.
  3. Deformidade óssea
    A má cicatrização pode levar à deformidade óssea. Se esta ocorrer na face ou resultar na curvatura dos ossos das pernas, pode tornar-se muito percetível. Deformação grave da face pode levar à perda de visão e/ou audição. Se as pernas ou a bacia forem afetadas, pode ocorrer dificuldade em andar e artrite nas articulações próximas.
  4. Problemas hormonais
    A mesma anomalia que ocorre nas células ósseas pode ocorrer ao nível endócrino, levando a problemas hormonais. Embora raro, ocorre em formas graves de displasia fibrosa poliostótica, causando hiperatividade da tiroide (ansiedade, perda de peso e sudação anormal), das glândulas suprarrenais (aumento de peso e diabetes), da hipófise (produção de leite em mulheres, gigantismo e acromegalia) e da paratireoide (altos níveis de cálcio no sangue).

    As mulheres podem sentir mais dor durante a gravidez ou ciclo menstrual, uma vez que os níveis elevados de hormonas podem acelerar o crescimento da displasia fibrosa.
  5. Descoloração da pele
    Manchas na pele (tipo "café com leite") são frequentemente observadas em pessoas com problemas hormonais e displasia fibrosa. Isto ocorre como parte da síndrome de McCune-Albright (FD/MAS).
Diagnóstico1,3

O diagnóstico baseia-se na identificação de sintomas característicos, num historial detalhado, numa avaliação clínica minuciosa e em testes especializados. As pessoas com formas ligeiras de DF monostótica podem ser diagnosticadas acidentalmente quando fazem uma radiografia por outro motivo.

A DF ocorre normalmente em crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 15 anos, mas por vezes só é diagnosticada na idade adulta.

Testes clínicos que podem ser realizados:

  • Tomografia computorizada (TC)
  • Ressonância magnética (RM)
  • Cintilografia óssea
  • Biópsia óssea
  • Uma forma altamente sensível e específica de reação em cadeia da polimerase (PCR) tem sido utilizada para detetar mutações somáticas do gene GNAS1
Tratamento4,5,6

O tratamento da DF é direcionado para os sintomas específicos de cada pessoa. Este pode exigir trabalho coordenado de uma equipa multidisciplinar que pode incluir pediatras, cirurgiões ortopédicos, endocrinologistas, oftalmologistas e outros profissionais de saúde. O apoio psicossocial a toda a família também é importante.

Uma vez que esta condição é persistente, a monitorização clínica contínua é essencial. Em alguns casos, a DF pode não necessitar de tratamento, mas noutros casos podem ser recomendados medicamentos e procedimentos cirúrgicos e não cirúrgicos:

  • Medicamentos
    Medicamentos inovadores (como os bifosfonatos e o denosumab) são fáceis de tomar e têm menos efeitos secundários. Os bisfosfonatos diminuem a atividade das células que dissolvem o osso. Estudos recentes demonstraram alívio da dor e diminuição da frequência das fraturas em casos menos graves4. No entanto, estes medicamentos só são administrados em casos bastante específicos.
  • Bracing
    Em alguns casos, pode ser utilizado um aparelho para evitar fraturas em ossos enfraquecidos. No entanto, não foi demonstrado que o aparelho seja eficaz na prevenção da progressão da deformação do osso.
  • Procedimentos cirúrgicos:
    - Curetagem: procedimento cirúrgico utilizado para raspar o tecido fibroso para fora do osso
    - Enxerto ósseo: preenchimento da cavidade para ajudar a estabilizar o osso
    - Fixação interna: utilização de hastes metálicas ou placas e parafusos para fixar uma fratura e prevenir a rutura óssea ou estabilizar o osso.
Referenciação e acompanhamento multidisciplinar
  1. Consulta Multidisciplinar de Displasias Ósseas (pediatria e adulto)
    Para melhorar os cuidados prestados às pessoas com displasia óssea é importante agregar e sistematizar conhecimento das várias áreas da saúde. Conheça a consulta multidisciplinar aqui.
  2. Rede de Centros de Referência em Displasias Ósseas
    Visite a ERN BOND — Rede Europeia de Referência para as Doenças Ósseas Raras. Em Portugal existem dois centros de referência, em Coimbra e Lisboa.
  3. Registo Europeu de Displasias Ósseas
    Visite o EURR BONE — Registo Europeu de Condições Ósseas Raras — e conheça a página dedicada à DF, aqui.
  4. Referenciação
    É necessário que a comunidade de profissionais de saúde e cuidadores reconheçam que a DF é incurável, para toda a vida e que está associada a uma série de sintomas debilitantes. Os médicos de cuidados primários devem ser informados sobre as características desta condição e para a necessidade de referênciação.
  5. Acesso a medicação
    A disponibilização de medicação deve ser atempada e monetariamente acessível. Esta deve também ser ajustada às necessidades individuais, sem diferenças relativas ao país de residência ou às circunstâncias socioeconómicas.
  6. Informação adequada
    Deve ser fornecida informação confiável e de acesso fácil às pessoas com DF e suas famílias, de forma a evitar que subsistam dúvidas. As pessoas com DF devem conhecer os seus direitos.
Orientações médicas padronizadas

A raridade desta condição e a sua apresentação variável a várias especialidades conduzem a diagnósticos e tratamentos incorrectos. Para resolver este problema, o Consórcio internacional DF/MAS — que inclui clínicos, investigadores e defensores dos doentes — desenvolveu diretrizes clínicas pragmáticas para as melhores práticas clínicas em matéria de diagnóstico, tratamento e monitorização, a fim de capacitar os doentes e apoiar as equipas clínicas em contextos de cuidados de saúde gerais e especializados.

As directrizes foram elaboradas com base na revisão da literatura, na experiência de longa data dos autores, na contribuição de outros profissionais de saúde envolvidos nos cuidados a pessoas com DF/MAS e no feedback de pessoas com esta condição. A implementação destas recomendações conduz a uma melhoria dos cuidados prestados às pessoas a nível internacional e garante um tratamento consistente.

Conheça as orientações (em inglês):

Abrir orientações
Como posso ajudar

ando

  • Pode contribuir com donativos para organizações e para a investigação sobre a DF. Conheça aqui a Aliança FD/MAS — uma organização sem fins lucrativos que promove investigação, formação e apoia pessoas com DF e síndrome de McCune-Albright (DF/MAS).
  • Pode-se voluntariar para apoiar a associação do seu país.
  • Pode apoiar as pessoas com DF partilhando estas informações e aumentando a visibilidade desta condição.
Saiba mais
Bibliografia
  • 1. Lietman SA, Levine MA. Fibrous dysplasia. Pediatr Endocrinol Rev. 2013;10:389-396
  • 2. Lee JS, FitzGibbon EJ, Chen YR, et al. Clinical guidelines for the management of craniofacial fibrous dysplasia. Orphanet J Rare Dis. 2012;7(Suppl 1):S2
  • 3. Lietman SA, Ding C, Levine MA. A highly sensitive polymerase chain reaction method detects activating mutations of the GNAS gene in peripheral blood cells in McCune-Albright syndrome or isolated fibrous dysplasia. J Bone Joint Surg Am. 2005;87:2489-2494
  • 4. Chapurlat RD, Gensburger D, Jimenez-Andrade JM, et al. Pathophysiology and medical treatment of pain in fibrous dysplasia of bone. Orphanet J Rare Dis. 2012;7:S3
  • 5. Stanton RP, Ippolito E, Springfield D, et al. The surgical management of fibrous dysplasia of bone. Orphanet J Rare Dis. 2012;7:S1
  • 6. Boyce AM, Chong WH, Yao J, et al. Denosumab treatment of fibrous dysplasia. J Bone Miner Res. 2012;27:1462-1470. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2243137
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